sábado, 4 de agosto de 2012


A solidão é o meu maior medo, porque sempre que me sinto sozinho recorro excessivamente à inquietação do pensar. Quando o faço, chego a todas as conclusões que me é mais confortável evitar. Existe em mim a concordância de vivermos numa era de libertação em que a nossa individualidade se torna uma necessidade primária, sendo importante criarmos espaço para as formas de expressão de cada um, aceitando a diferença e incentivando a ousadia. No entanto, creio que a liberalização desmedida de tudo começa a reflectir-se na perda de um bem tão essencial como a referência. A necessidade de sermos guiados é imperativa desde que o racional será sempre condicionado pelo instinto. Nós desvirtuamos a necessidade de hiperbolizar o que está errado e condenamos a nossa geração ao vazio de não perceber a sua importância e a necessidade de viver o prazer como um processo de construção e não uma sensação imediata. Pergunto-me diariamente se o que nos torna insatisfeitos compulsivos e infelizes irremediados não foi uma overdose de carpe diem e a nossa total falta de vontade de obedecer a um plano maior. Certas restrições que outrora existiram na sociedade instigaram-nos a quebrar as regras em busca de uma maior libertação de identidade. No entanto, tê-lo feito proporcionou-nos um descontrole que ganha vida numa total ausência de planificação. Ninguém se importa que o amanhã chegue, até porque seria impensável deixar de viver o hoje sem priorizar os caprichos do instinto. É precisamente essa falta de vontade de honrar o facto de não sermos apenas animais que nos está a levar a uma anarquia desmotivante de rebeldes sem causa. Já nem ser rebelde tem piada..Nada tem piada, porque já nada é errado. O que nos diferencia das restantes espécies é a capacidade de premeditar, abdicar e sacrificar os apelos do instinto por bens maiores que alimentamos na crença de serem o veículo para uma vida de conquistas contínuas que dão fôlego ao nosso orgulho.Toda a felicidade que advém de um caminho trilhado em consciência e com rumo a situações de investimento consecutivo nos proporciona um maior respeito pelas nossas escolhas, fazendo com que valha a pena aceitar que é necessário deixar umas coisas por outras. Seria tudo francamente mais simples se tivéssemos a capacidade de interiorizar que fazer escolhas é um mecanismo de aprendizagem precioso e que será sempre impossível usufruirmos apenas do melhor de dois lados opostos. Talvez por isso vivamos com a ligeireza de nos podermos rodear de frivolidade , sem percebermos que o tempo vai passando e estarmos constantemente entretidos não é o caminho para que possamos perceber o que é ser feliz. O prazer só se torna prazer quando recordamos o espectro de emoções que procura-lo nos proporcionou. É isso que o enobrece e nos faz torná-lo inesquecível. O nosso actual estado de espírito é fruto da relativização de tudo. Andamos apáticos e perdidos porque preferimos não nos levar tão a sério e ser contagiados por esta onda de imediatização do prazer. Temo que num futuro próximo a minha geração esteja demasiado ferida com a consciencialização de já não ser gratificante fazer tudo o que nos parece imprescindível de momento porque acredito francamente que essa sobrevalorização do imediato não nos vai possibilitar um futuro com condições para vivermos de forma diferente. No entretanto, o imediato já passou sem que deixasse grandes lembranças e nós de nada fizemos para que hoje fosse melhor que ontem e nos desse melhores ferramentas para construir um ainda melhor amanhã, podendo ser felizes com o simples facto de olhar para trás e para a frente sabendo que hoje estamos no sítio certo."With great power, comes great responsibility." Creio ser uma das frases mais brilhantes de sempre. Lamento que a nossa racionalidade não se imponha de forma mais agressiva porque sinto que estamos a ressacar educação e começamos a não perceber a necessidade de haver certo e errado. Questionar alguma coisa é tão importante como sabermos aceitar, depois de esclarecidos, que as coisas são e devem ser tal e qual como nos foi, ou devia ter sido, ensinado ser correcto. Cometer erros só faz sentido se os considerarmos como tal, porque embora tenhamos a necessidade de satisfazer a nossa curiosidade e esclarecer o nosso instinto, isso proporciona-nos o conhecimento necessário para saber que o arrependimento nos vai tornar melhores educadores e embaixadores das razões que justificam um erro ser conotado como tal. O que nos torna humanos é a capacidade de nos controlarmos, sabendo que quando erramos em consciência estamos a desrespeitar a nossa racionalização e devemos conseguir evitar tais instintos para respeitar o que queremos ser e contrariar o que somos.
Ando francamente cansado de sentir que tenho duas pessoas na minha cabeça e que o melhor de uma nunca vai poder coexistir com o melhor da outra. Discutimos tanto um com o outro que posso afirmar saber exactamente o que devo fazer de mim por ser o que eu espero de mim e o que me pode levar a viver quem eu quero ser porque assim sei ser correcto. No entanto, não consigo desprender-me do meu outro eu que tanto admirei e cultivei durante todos estes anos na inconsciência de me parecer feliz. Seria admitir que errei consecutivamente em tudo o que escolhi para fazer parte de mim e isso, é algo que nem o meu primeiro eu suporta. No final de todas estas batalhas regresso ao início...porque me sinto sozinho e a solidão faz-me pensar. Provavelmente tornarei a chamar alguém que nada me ensina, com quem não me identifico, ou que não admiro para ocupar o tempo apenas a ocupa-lo e amanhã estará tudo igual, comigo a fugir constantemente de todos os momentos que passo a sós comigo mesmo. Somos tão cobardes que nos recusamos a aceitar a possibilidade de deixar tudo o que somos e conhecemos para acreditar que há soluções melhores para nós nos recantos do desconhecido. Desta forma, adio o concretizar desta escolha imperativa, martirizando-me com o facto de me estar a desperdiçar, com a plena noção de que só com sacrifício, força de vontade, objectividade e persistência se consegue ter mais do que um bando de inúteis divertidos e actividades intelectualmente redutoras a iludir-nos com o que o que se traduz numa cópia barata do que é ser feliz. Há que matar um dos dois guerreiros que batalha na minha cabeça, porque alimentar de forma medíocre cada um deles faz com que nenhum possa crescer de forma saudável e construtiva. Viver duas vidas a meio-gás apenas me impede de tomar a difícil decisão de ter que abandonar parte de mim para que possa abraçar-me em pleno e arriscar-me a lutar pelo que eu acredito ser um fim passível de gratificação constante.

by Darko

15 comentários:

sophie disse...

uiiii, a minha cabeça não está nada boa para ler isto, mas depois venho dar uma melhor espreitadela <3 adoro a imagem!

common courtesy disse...

<>
essa sensação anda a perseguir mais do que uma pessoa*

Anónimo disse...

meu deus :o duas lentes? deve ter ficado pouco caro deve...
oh, a mim pouco me importa de é 1000D ou 1100D ou 500D ou 600D... é canon e a canon tem uma excelente qualidade, pra mim é a melhor marca do mercado. nunca trabalhei com uma e, caso compre uma canon, vai ser daquelas fraquitas de 150 ou 140 euros, nada mais que isso xD

catarina disse...

amei !

Skye disse...

Tão sincero, tão intenso.

sophie disse...

espero que isso seja bom :D

Skye disse...

Mas enquanto não dura, dói.

Skye disse...

Se precisares de falar, estarei aqui, princesa.

Anónimo disse...

fico maravilhada com a tua escrita, vizinha :')

Ana. disse...

amei, super verddeiro

sophie disse...

oh ainda bem ihih :)

Ana. disse...

oh, ainda bem que gostas linda :D

Joana Nogueira disse...

Não tens de quê! Ajudar os outros também me ajuda bastante a entender os meus próprios problemas, por isso, obrigada e igualmente :)

catarina disse...

muito muito obrigada :)

Anónimo disse...

mas não é só a máquina que faz da pessoa uma boa fotógrafa...

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