quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Fernando Pessoa


«Eu acho que este senhor já arranjou uns trezentos cursos em diferentes géneros de contorcionismo só com o que vocês lhe fazem por essas redes sociais fora.
Toda a gente gosta de Fernando Pessoa. Ou deviam. O que há para não gostar? Foi um grande português, escreveu coisas muito bonitas e tirar fotografias agarrados à estátua do senhor na Baixa é uma moda. Por todas essas ruas do Chiado, existe um pouco da sua história. Já para não dizer que é o maior exemplo de múltipla personalidade e de swag de sempre. Grande maluco, sempre a fumar e a beber. Inspirou gerações.
No que ele não inspirou (parece-me) foi na escrita. Vocês escrevem. Escrevem sim senhora. Com uma pedra da calçada portuguesa na mão, prestes a atirar ao homem. Continuo a achar que foi assim que o Camões ficou sem o olho. Alguém escreveu "o meu amor por ti é esterno" e ele não teve tempo de se baixar. São misérias da vida, tem que se treinar os reflexos. Eu, por exemplo,  passo o meu dia a imitar o Matrix. Estou sempre pronta para vocês.
Eu gosto muito que citem Fernando Pessoa. Não há frase ou verso que não seja lindo. Mas existe uma pequena diferença entre vocês citarem porque gostam, pessoalmente ou num qualquer estado que se encaixa na vossa vida, e citarem porque é giruh e porque curtem tótil deleh. Se faz favor, não.
Faz-me comichão as pessoas que se põem a dizer em estados ou descrições de fotografias "Tenho em mim todos os sonhos do mundo" e depois só sonham em chegar aos dezasseis anos para irem sair à noite.
Parem. Vocês estão a ressuscitar o senhor só para lhe meterem um tiro no meio dos olhos. E isso não se faz. Tentam passar por cultos na Internet. "Ui, que eu cito Fernando Pessoa. Estou cheia de inteligências." Chegam à aula de Português e... "Isto é o quê? O que é que ele quer dizer com isto? Ai, não percebo nada." E isto está escrito à minha maneira, porque vocês não falam assim. Vocês é mais do género: "Aí, ó prof, qué'sta merda?"
Sinceramente, se ele soubesse, tinha queimado tudo o que escreveu antes de morrer. Ninguém merece. Vocês assassinam tudo o que as pessoas fazem. Ainda aceito que vocês citem e coloquem umas aspas ou digam que é do senhor. Porque eu gosto de ler essas frases. (Apesar de existirem sites carregados disso e de eu ter os livros, mas eu perdoo-vos.) Agora não se vão fazer passar por pessoa-inspiradora-que-escreve-frases-sofridas-mas-que-na-verdade-são-roubadas. Não admito. Sou muito contra roubarem os produtos da imaginação dos outros. Não sabem fazer igual ou parecido? Não tem mal nenhum. Nem todos têm vocação para o mesmo, isso não teria graça nenhuma.
Mas ao roubarem as coisas, só estão a fazer figuras. Porque quando vocês não conseguem juntar duas palavras seguidas sem dar quatro erros, ninguém vai acreditar que são vocês que escrevem aquilo com que enchem as redes sociais.»

Escrito por , em 157 centímetros de opinião

2 comentários:

vera disse...

gostei muito !

danieladias disse...

Adoro Fernando Pessoa *.*

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Simple as that.»